Capitulo 1 (Exu)
Embora já tenhamos falado um pouco sobre quem é Exu e sua natureza, nada como um breve esclarecimento para elucidar alguns outros detalhes.
A origem de Exu é africana: ele é um Orixá proveniente do panteão iorubano (etnia fixada geograficamente na Nigéria). Ele é o mensageiro, aquele que rege toda a comunicação, guardião das cidades, das casas, da sexualidade e de todas as coisas que são criadas pelo o homem. Ele é o Orixá de tudo quanto está em movimento.
Exu tem o direito de receber oferendas primeiro, a fim de assegurar que tudo corra bem, assim é que ele garente a comunicação entre o Ceú e a Terra, o mundo espiritual e o físico.
Tanto na África em colonização quanto mais tarde, quando os negros escravos vieram para o Brasil, Exu- por sua natureza brincalhona e irreverente, e sua representação, que consiste num falo (pênis) humano ereto, simbolizando a fertilidade- foi sincretizado com o Diabo do catolicismo. Assim, por toda a sua maneira provocadora e astuciosa, sem falar nas claras menções sensuais e sexuais de seu culto, Exu foi confundido com Satanás ou Lúcifer, o Anjo Caído. No panteão iorubano, essa associação, além de ofensiva, é absurda, pois Exu não está em oposição a Deus, nem é a personificação do mal; pelo contrário, rege a materialidade garente o equilíbrio entre o mundo físico e o espiritual.
Justamente por estar tão intimamente ligado à materialidade, ele não tolera dívidas: se uma coisa é prometida a Exu, ela deve ser cumprida, ou ele se divertirá provocando problemas e calamidades às pessoas que não cumprem com suas palavras. Justamente por isso, ele é tido como o mais humano dos Orixás e o único que se relaciona com espíritos desencarnados que servem a suas missões, daí a origem do Exu cultuado na Umbanda.
O Exu da Umbanda, tal qual o Exu Orixá, não possui muitas quizilas ou ewós, isto é, proibições- ele pode aceitar praticamente tudo quanto lhe é ofertado
Como aceita quase tudo que lhe oferecem, especialmente coisas mundanas e acessíveis, como farofa e otim (bebida alcoólica, em iorubá). Justamente por isso desenvolveu-se uma crença de que pode-se fazer pactos ou "comprar" os atos de um Exu ou de uma Pombagira. O mito é, na verdade, uma má interpretação do ato de compromisso: ninguém compra uma entidade da esfera espiritual com uma garrafa de cachaça ou qualquer outra coisa, assim como não se acredita que um balaio vá comprar Iemanjá- mas esse objeto-oferenda serve como atestado físico do compromisso que as duas partes, entidade e pessoa, selam em prol de um bem maior.
Em razão disso, antigamente, quando um despacho era feito na encruzilhada, proucurava-se uma por onde passasse pouca gente e o rito não corresse o risco de ser violado, assim, podia-se saber, visivelmente, se Exu tinha aceitado a oferenda: ela era vista sendo "bebida" a olhos nus, direto da garrafa aberta e sem ninguém tocá-la. Assim, embora Exu possa receber qualquer oferenda, isso não significa que ele aceitará de bom grado qualquer coisa. Oferta algo é uma demostração de boa-vontade, não um suborno.
Já os Exus de Umbanda são espíritos de diversos níveis de evolução espiritual, que incorporam nos médiuns e interagem de diversas formas com os seres humanos. O Exu Orixá é cultuado na Umbanda, somente nas casas mistas ou na Umbanda de Nação. Assim, na Umbanda não se manifesta o Orixá, somente seus mensageiros e falangeiros, espíritos que vêm em Terra para orientar e ajudar. O Exu da Umbanda também tem a função de ser o mensageiro, o que leva os pedidos e oferendas dos homens aos Orixás, já que o único contato direto entre essas diferentes categorias só acontece no momento da incorporação.
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