A Esquerda e a evolução espiritual
A Esquerda e a Evolução espiritual
Muito se discute sobre que tipo de entidade vem à Terra. Alguns dizem que são as entidades mais evoluídas. Outros dizem que são aquelas que estão começando a entrar no nivel do divino; já nas crenças africanas, acredita-se que o processo de incorporação é feito pelos os deuses, pelos orixás, pois no momento em que nascemos, a energia deles passa a habitar dentro de nós.
As negativas, debates e embates acerca desse assunto geram as mais diversas controvérsias, que vão desde o papel das entidades e dos Orixás, a sua forma, até as suas relações hierárquicas. Um bom exemplo disso é a seguinte citação, retirada da internet.
Os caboclos, Pretos-Velhos e Crianças, que fazem parte da chamada Corrente Astral de Umbanda […] Os Caboclos que trabalham nos terreiros são das seguintes linhas: Orixalá (estes não incorparam, somente passam vibrações), Ogum, Oxossi, Xangô e Yemanjá; os Preto-Velhos são da Linha de Yorimá; e as Crianças da Linha de Yori.
Nosterreiros, em geral, trabalha-se com Protetores de 5°, 6° e 7° Grau. Para se trabalhar com o Guia (4° Grau) é exigida muita experiência e devoção por parte do médium. Raras (praticamente impossíveis) são as incorparações de Orixás Menores (1°, 2° e 3° Grau), que necessitam de um médium muitíssimo preparado, corrente mediúnica segura, um terreiro limpo no físico, astral e mental, e ausência de obsessores até mesmo vindo da assistência. É impossível a incorporação de Orixás Maiores.
Trechos desse artigo revelam algumas visões recorrentes e comuns na Umbanda, que além de gerarem grandes preconceitos com relação a outras religiões- especialmente de matriz africana- generalizam fatores que não podem ser generalizados. Um primeiro problema é caracterizar entidades de acordo com a linha e não de acordo com outras circunstâncias, como a natureza do médium, que tipo de missão aquela entidade tem, qual o tipo de vibração que é da propia natureza da entidade etc. No caso da Esquerda, o problema torna-se ainda maior, porque esse tipo de pensamento aliado à natureza que Exus e Pombagiram regem, faz que eles sejam tomados por kiumbas, entidades sem qualquer iluminação e até mesmo baixas e sem moral, ética ou valores, quando, na verdade, as entidades da Esquerda na Umbanda são espíritos em busca de evolução e compromissados com a espiritualidade superior. Eles trabalham no âmbito do perdão e da misericórdia, e suas regências estão relacionadas à ação e à reação, a fé e ao caminho do equilíbrio, assim como qualquer um Preto-velho ou Caboclo.
A exemplo disso, tomarei o Exu Veludo, para exemplificar como analisar essa entidade e entender sua atuação, sua relação com os Orixás e o médium e a maneira como ele se manifesta.
Esse Exu vem, normalmente, em filhos de Xangô, mas também pode se manifestar em filhos de Ogum, deferindo um pouco em seu ponto, mas com características muito semelhantes.
Seu ponto tem características muito importantes: São três tridentes curvos na parte de cima do meio do circulo do ponto, demonstrando a finesse de sua riqueza, associada a Xangô; dividindo ao meio dois tridentes retos, símbolo dos caminhos da rua; na base, um espiral, mas não única, há mais duas, menores, na parte de cima do circulo- elas são uma das representações da coroa, da realeza, também proveniente de Xangô- uma cruz do lado esquerdo do ponto, mostrando que é um Exu ligado, em geral, á morte e as demandas do espírito, pois Xangô abomina a morte, seu mensageiro o defende dela, e um nó desatado do lado direito mostrando as demandas vencidas, sobre as quais prevaleceu seu poder.
Em geral, seu ponto é:
Exu da meia-noite ,
Exu da encruzilhada,
No terreiro de umbanda,
Sem Exu não se faz nada.
Ninguém pode conmigo,
Eu posso com tudo,
Na minha encruzilhada,
Eu sou Exu veludo.
(Resposta)
Ninguém pode com ele
Ele pode com tudo ,
Lá na encruzilhada,
Ele é Exu Veludo.
Como se pode ver, o ponto confirma precisamente aquilo que foi escrito no ponto riscado. Não é tão completo, pois certas informações só devem chegar a quem precisa sabê-las e não a quem quiser ouvir. Assim, basta analisar o ponto para ver que ele vence na demanda e na encruzilhada ou no terreiro ele fala em nome de Xangô.
Por ultimo, seu brado costuma ser intenso como o de Xangô, terminando numa grave gargalhada. Seu nome também mostra sua realeza, a quem ele representa e de quem é mensageiro.
Sua indumentária, em geral, é uma capa de veludo vermelho (vermelho da realeza, herdado de Xangô), recobrindo o peito nu. Por vezes, também pede uma cartola. É um dos poucos Exus que pede para não ser servido com marafo , mas com gin e por vezes whisky. São notórios os traços da boemia requintada em seus gestos e atos, é sempre muito conquistador e gentil com as mulheres.
Traz em suas mãos um tridente curvo e, por vezes, um Oxe, de seu orixá, Xangô, na outra mão. Tudo isso mostra quem ele é e fornece a segurança aos seus atos. Como este, existem tantos outros casos.
Como pudemos ver, há pequenos fatores que, uma vez indentificados, ajudam a perceber a real natureza de uma entidade que desenvolve, em conjunto com o médium, seu trabalho mediúnico.
Esses fatores podem ser resumidos em algumas perguntas:
1. A que orixá aquela entidade responde/obedece, naquele médium?
Para responder essa pergunta, é importante saber, primeiramente que toda pessoa é formada pela junção de sete Orixás que combinam suas características mais diversas para nos dar vida e personalidade. Essa junção é representada por uma forma mística, o Septagrama ou Heptáculo, isto é, a Estrela de sete Pontas.
O primeiro Orixá de cada pessoa é aquele que nos rege, e ele pode ser feminino ou masculino. Governa a cabeça, a coroa, o ser. Ele é a principal fonte da nossa personalidade.
O segundo Orixá, em geral, tem a essência oposta à do primeiro no que concerne ao gênero. Assim, se a pessoa tem um orixá masculino no primeiro posto, terá um feminino no segundo. São raros, mas não impossiveis, os casos em que uma pessoa pode ser regida por dois orixás de mesma essência, o que não caracteriza nenhuma anormalidade ou coisa errada, apenas diferença entre as pessoas. O Orixá do segundo posto é o que rege a natureza de cada um, aquilo que somos no mais íntimo.
O terceiro Orixá é o que conhecemos por Juntó. A maioria dos médiuns só conhece até esse Orixá. Busca-se além mediante necessidade, por saúde, por outro motivo ou sarcedócio- afinal, para cuidar de outras pessoas, é essencial conhecer a si mesmo. A partir daqui, os Orixás já não têm muito parâmetro relacionado ao gênero, isto é, podem conter essência feminina ou masculina. Esse posto rege o comportamento, isto é, o que somos para as outras pessoas.
O quarto Orixá rege a saúde, bem como o quinto rege a família, e o sexto rege o trabalho.
A sétima posição, obrigatoriamente, cabe sempre a Exu. Ele é o senhor de tudo quanto é mundano e material. Seja um Exu feminino ou Pombagira, ou um Exu masculino, Eleguá, ele sempre regerá tudo quanto for mundano em nossas vidas, mantendo o equilíbrio.
A cada um dos Orixás corresponde uma entidade. Entre o terceiro e o sexto Orixás, as entidades podem se alternar, mas certas posições acabam sendo fixas. O primeiro Orixá é quem determina o Guia, ou a entidade responsável pela a Coroa do Médium. O segundo Orixá é o que normalmente delimita a natureza do Erê ou Criança do Médium, representa a natureza daquele espírito, o que é o mais puro e intocado. E o sétimo posto é sempre de uma entidade vinculada a Exu, isso quando não um casal de Exu: macho e fêmea, o que é até mais comum. Assim, a estrutura se organiza da seguinte forma:
2. Qual a hierarquia que aquela entidade desempenha, dentre as demais entidades daquele médium?
O Guia é a entidade que primeiro responde pelo o médium. Daí em diante, segue-se uma cadeia de seis postos, nos quais se organizam as entidades, de acordo com:
a• os orixás a quem obedecem;
b• seu grau evolutivo;
c• os aspectos da vida do médium que regem;
d• suas próprias características.
3. Qual a energia daquela entidade?
Qual o tipo de energia com que aquela entidade mais trabalha? Cura? Paz interior? Justiça? Batalha? Verdade? Materialidade? Trabalho?
Respondida essa questão, fica-se mais próximo de entender em que linha aquela entidade realmente atua.
4. Outros fatores
Outros fatores que também devem ser levados em consideração:
a• O titulo pelo qual aquela entidade se identifica (quando um Preto-Velho, por exemplo, identifica-se como "pai" e não como "vovô" ou uma Preta-Velha se identifica como "mãe ou "vó" e não como "tia", isso já nos mostra que estão em maior ou menor grau de evolução e/ou em maior ou menor proximidade com o médium em questão, além de poderem ser seus ancestrais).
b• O Ponto Riscado (ele contém muitos elementos que podem remeter ao Orixá ao qual a entidade responde ou em qual linha atua).
c• O Ponto Cantado (ele pode conter uma referência, novamente e como o Ponto Riscado, ao Orixá ao qual a entidade responde ou em qual linha atua).
Seguindo em nosso raciocínio, outra crença, bastante difundida em algumas vertentes da Umbanda, que foi expressa pelo o exceto retirado da internet citado previamente, é a de que os Deuses estão muito distantes de nós e que, portanto, o que vem aos terreiros (embora entidades muito mais evoluídas), sejam apenas almas que ainda pagam por seus pecados em Terra e que, para chegar à plenitude, ainda têm um longo caminho a percorrer como espíritos consoladores. Esse plano seria apenas um plano de expiação e sofrimento, um lugar onde viemos aprimorar e fortalecer nossos espíritos para a recompensa na vida eterna em conjunção com Deus.
Para o leitor desavisado, esse pequeno resumo pode parecer inofensivo. Para o leitor mais atento e que se predisponha a contestar, essas palavras reservam uma surpresa: o discurso está contido integralmente numa religião análoga, da qual a Umbanda surgiu, mas cujos dogmas ela negou, já que outras verdades mostravam-se mais profundas e verdadeiras, até mesmo nessa religião: o Catolicismo.
Como falamos da Esquerda e do papel dela, a análise que segue é fundamental para entender como funciona o papel dos Exus e das Pombagiras na evolução humana e na forma como nos relacionamos com o equilíbrio necessário.
Antes de começar, é necessário relembrar alguns dos pontos em que estão calcados os fundamentos da Umbanda, em especial, cinco destes princípios:
I. A Umbanda é uma religião que prega a Reencarnação, Isto é, os adeptos creem que existe um ciclo natural de nascimento-vida-morte-renascimento. São necessárias várias existências para alcaçar o equíbrio do corpo (físico que, com o cessar de seu funcionamento, projeta-se no astral), da mente e do espírito. Alcaçando esse equilíbrio, a espiritualidade se abre em inúmeros planos e o Ser, sublimado e transcedente, evolui. Nesse ciclo de encarnação-morte-reencarnação todas as fases têm suma importância, assim, não se deve desprezar a vida material em detrimento da espiritual, nem a espiritual em detrimento da material.
II. A Lei do Equilíbrio ou da Ação e Reação é outro ponto fundamental na Umbanda. Com o advento da Umbanda Astrológica, ou Esotérica, e os contantos com o Budismo e o Hinduísmo, já bem depois da gênese da religião, muitos passaram a conhecer os conceitos pertinentes a essa lei como Kharma e Dharma, ou causa e consequência. Para entender essa lei, em primeiro lugar, é essencial entender a premissa da reencarnação, pois ela rege o equilíbrio entre as ações e as reações que cada pessoa gera enquanto evolui. Resumindo, tudo que fazemos, toda ação que realizamos, gera uma reação, de igual força e em sentido contrário, isto é, que volta em nossa direção. Se plantarmos o bem, colheremos o bem. Se plantarmos o equilíbrio, colheremos o equilíbrio. Se plantarmos o mal, colheremos o mal. Se plantarmos vícios, colheremos vícios.
III. O praticante de Umbanda crê na utilização da mediunidade, em todas as suas formas (incorporação, audiência, vidência, clarividência e uso de oráculos, psicografia, percepções extrassensorias), para interagir com o mundo espiritual, buscando evolução e integração com ele.
IV. Na Umbanda, a Evolução Espiritual e a Evolução material do homem caminham lado a lado e equilibram-sem mutuamente. O plano físico serve de aprendizado, bem como o plano espiritual, para chegar à plenitude da existência e integrar-se com Deus.
V. Acima de tudo, os Umbandistas creem que todos esses conceitos se manifestam por um motivo que pode ser resumido em quatro palavras: amor, humildade, caridade e fé.
A partir disso, já podemos perceber uma grande diferença entre os espíritos da Direita e da Esquerda. Enquanto os primeiros nos preparam para a vida espíritual e vêm à terra para zelar por nossa paz de espírito e evolução, os espíritos da Esquerda vêm em terra para zelar por uma vida material plena, que deve sempre andar em equilíbrio com a vida espiritual. Um ciclo não é pleno sem que o outro também o seja, isto é, não existe um espírito evoluído que tenha por opção se entregando a uma vida miserável, ruim, mesquinha e de resignação sem lutar, sem viver, sem dar valor à dádiva que é estar vivo, amar, apaixonar-se, casar, ter filhos, família, cuidar dos pais velhinhos, ter amigos, ir a festas e experimentar, ficar velho, sofrer, ser feliz e tudo mais quanto está em nossa natureza. A Esquerda é quem cuida de tudo isso, é quem zela pelo o equilíbrio entre o corpo e a alma, mantendo o espírito em constante evolução.
Por isso, no que concerne aos Exus e Pombagiras, algumas questões são controversas demais e precisam de uma discussão maior e racional, organizada e sem preconceitos. Por isso, nossa proposta é fazer uma análise racional, respondendo algumas questões:
1. O que é pecado e por que ele é associado à esquerda?
Para o cristão católico, pecado é tudo aquilo que contraria a vontade de Deus, ao que podemos relacionar os sete pecados capitais e as violações aos dez mandamentos (para quem fugiu da catequese católica ou nunca chegou a fazer, lá vai):
Os 7 Pecados Capitais (ou Passíveis de Morte)
Luxúria- Fazer sexo por prazer e não para procriar.
Gula- Comer além do que é necessário para sobreviver.
Avareza- Guarda dinheiro e enriquecer.
Inveja- Desejar possuir coisas que outros também possuem.
Orgulho- Sentir orgulho ou qualquer tipo de bem-estar consigo mesmo, a ponto que querer governar a própia vida.
Preguiça- Descansar com mais frequência que trabalha.
Ira- Lutar, guerrear ou batalhar podem ser considerados aspectos da ira.
Os 10 Mandamentos
I. AMARÁS A DEUS SOBRE TODAS AS COISAS (E Não terás outros Deuses).
II. GUARDARÁS SEU SANTO NOME E NÃO O DIRAS EM VÃO.
III. GUARDARÁS DOMINGOS E DIAS SANTOS.
IV. HONRARÁS PAI E MÃE.
V. NÃO MATARÁS.
VI. NÃO PECARÁS CONTRA A CASTIDADE.
VII. NÃO ROUBARÁS.
VIII. NÃO LEVANTARÁS FALSO TESTEMUNHO.
IX. NÃO COMETERÁS ADULTÉRIO.
X. NÃO COBIÇARÁS AS COISAS ALHEIAS.
Lendo isso, percebemos que quase tudo quanto podemos considerar "humano" entra no que é considerado pecado, e que poucos são os quesitos que mostram objetivamente algo que pode ser considerado "errado", como não matarás, não ROUBARÁS e não levantarás falso testemunho. Portanto, só nos salvaríamos nos entregando ao sofrimento e a privação em vida para garantir um bom lugar no Reino dos Céus.
Bom, a questão é que, para algumas vertentes ainda um tanto apegadas aos preceitos católicos, ignorando os rumos seguidos pela espiritualidade e até mesmo orientado pelas entidades,a Umbanda trabalha com essa noção de pecado para classificar os homens e as entidades, especialmente nas Sete Linhas e para associar esse tipo de atitude à regência de Exu, como se tudo isso fosse impuro. Em sua gênese na Umbanda, a noção de pecado passou a diferir bastante do pecado católico e, por isso, houve a grande perseguição que a Umbanda sofreu em seu princípio. Alguns dos fatores que geraram essa diferenciação são os que seguem:
• O sexo, para os espiritualistas, é parte do sagrado e a união entre duas pessoas é abençoada.
• A comida e o comer bem fazem parte da nossa fé; as festas, a dança e a música cuidam do nosso corpo físico e regozijam o espiritual.
• Guardamos dinheiro, pois vivemos numa sociedade de consumo, em que é necessario tê-lo, até mesmo para sustentar uma casa de Umbanda e fazer caridade.
• Sentir orgulho é parte de reconhecer nossa identidade, nossos sonhos e que pertencemos a uma comunidade.
• O descanso é tão merecido quanto o trabalho, e o equilíbrio entre ambos nos torna completos.
• Por último, a batalha, não a violência, são necessárias para alcançarmos nossos objetivos, portanto, praticadas em nosso dia a dia (além de um dos deuses da Umbanda reger a propia guerra, Ogum).
Sem contar os fatores que se relacionam com os 10 Mandamentos:
• Além de Deus (a quem também chamamos de Olorum ou Zambi), temos os Orixás.
• Todo dia da semana é sagrado para os Umbandistas, então, não dá para guarda todos eles e se dedicar apenas à religião: temos vida, trabalho, família e tudo o que faz parte do nosso dia a dia e que também é sagrado.
Portanto, o pecado fica uma coisa nebulosa e contraditória: ou aceitamos que somos todos pecadores e sempre viveremos em sofrimento, ou entendemos que o pecado é o desequilíbrio, o excesso, aquilo que nos afasta do caminho do meio, da bem-aventurança.
É para isso que a Esquerda serve: para nos mostrar que a vida material é tão importante quanto a vida espiritual e que nem podemos nos apegar demais a uma, nem podemos rejeitar a outra. Quando percebemos que as entidades como Exus e Pombagiras vêm ao mundo, incorporadas, com uma missão simples que é a de nos fazer perceber quão importante é dar valor à festa que chamamos de vida, ser feliz, ajudar o próximo e manter o equilíbrio e a moderação, percebemos que eles são entidades tão iluminadas quanto os Caboclos, que, justamente por não terem mais um corpo físico, é que dão tanta importância a ele.
Assim, a vida se torna muito mais leve e percebemos que não estamos aqui para expiar pecados. Muitos de nós estão aqui porque sabem que na mesma medida dos prazeres há sofrimentos, mas que ambas as coisas somente nos fazem aprender. E isso escolhemos por vontade própria, pois, sem boa vontade, nada se aprende.
2• Deuses e Homens
No catolicismo é facil compreender que Deus está distante dos homens, pois ele é supremo e governa todo o Universo. Mas, mesmo no Catolicismo, existe uma possibilidade de proximidade, por meio dos Anjos, que podem vir à Terra nos socorrer, e de Santos, homens que evoluem para chegar mais próximos de Deus, por meio do martírio, da penitência e da privação.
A Umbanda, no entanto, é uma religião espiritualista/naturalista. Para nós, o Deus Criador de todas as coisas, aquele que é o Princípio e o Fim, o Alfa e o Ômega, está a nossa volta em todas as coisas, presentes no nosso cotidiano, nos deuses que nos cercam e nos regem e, pricipalmente, na natureza, Os Orixás, Deuses que nasceram a partir dele, guardam-nos como seus filhos e nos alimentam com sua energia. Eles são, em Orún, o reflexo do que somos em Aye.
Por isso que, nas religiões africanas, em que o culto teve origem, são, sim, os Orixás que incorporam nos homens e não seus representantes ou entidades que falam em seu nome. Alguns podem dizer que ninguém poderia incorporar Xangô, pois ele é fogo e pedra, e a transformação não é possível. Entretanto, esse é um argumento falho, uma vez que quem o usa se vale de uma premissa falha: a de que o Orixá é o propio elemento, quando, na verdade, ele rege, o controla e o representa. Assim, não é impossível que uma energia habite um ser humano, da mesma forma como habita o Planeta, já que somos parte essencial e, como toda a vida e matéria presente aqui, vital para o equilíbrio.
O mesmo podemos falar de Exus e Pombagiras e, especialmente, do Exu Orixá: por que Exu não pode ser divino? Por que ele não pode ser um Deus e não simplesmente um empregado?
A resposta é muito simples: na nossa cultura é difícil aceitar que os deuses estejam tão próximos do plano físico e de tudo quanto acontece nele. É dificil aceitar que não podemos "esconder" o que acontece aqui. Um deus que está na Terra não depende de seus mensageiros e, se Exu é um Deus, ele também- e até mais que todos- rege as causas e as consequências de tudo quanto fazemos.
Assim, acaba restando a pergunta: por que acontece com uns e não acontece com outros? Por que alguns incorporam Orixás e outros não incorporam nada além de suas entidades?
A resposta é simples: porque somos todos diferentes e únicos. A missão de um pode não ser a missão de outro e, justamente por este motivo, é que esbarramos em alguns dos grandes problemas atuais da Umbanda (e, por que não dizer, das religiões de matriz africana e espiritualistas de maneira geral) :
A• O primeiro, a política de "se eu não conheço, é porque não existe". Infelizmente, uma prática cada vez mais comum, ligada principalmente à prepotência dos homens. É impossível que exista alguém capaz de deter todo o conhecimento sobre um determinado assunto, seja ele humano ou divino. Entretanto, muitos se apressam em dizer com toda a convicção "isso não existe", "isso é uma farsa", "isso jamais acontece". Muitos "sacerdotes" se valem desse tipo de argumentação para manter os "clientes" que pagam por suas consultas ou, na pior das hipóteses, manter os filhos presos à Casa, mesmo contra a propia vontade e contra a necessidade expressa pelo Orixá, pois, com a saída de um filho, perde-se a colaboração que ele dá para o Templo. O pior é que esse tipo de política só gera preconceito e conflito para a própria religião e não traz nenhum benefício.
B• O segundo, especialmente no que concerne aos sacerdotes, "se eu não posso, ninguém mais pode". Existe uma política de que o Orixá mais alto da casa é sempre o do sacerdote. Bom, se todos tiverem essa política de ignorar a verdadeira face dos deuses em troca do própio status, como ficam as pessoas que têm uma entidade num posto mais alto ou um Orixá mais diferente? Vamos mudar a natureza das coisas só porque somos diferentes.
C• E o último, e mais grave, o que podemos chamar de globalização e massificação da religião. Hoje, é muito comum passar pouco tempo estudando ou aprendendo sobre a religião: o comum é aprender o básico, conseguir alguns adeptos, abrir uma casa e seguir adiante, "Globalizando a Macumba" como me disse certa vez uma sacerdotisa, muito velhinha, no alto dos seus 87 anos, "vendendo santo em latinha". Hoje em dia, ninguém risca ponto e acende uma vela para fazer atendimento, vela só no pegí ou no conga; as especificidades acabaram-se e os batismos nunca acontecem para uma pessoa de cada vez- realiza-se logo com 10 ou 12 pessoas de uma vez, que é para economizar, não importa que cada um está num nível diferente. É a massificação da religião: estamos transformando a Umbanda num drive-thru espiritual, peça pelo o numero, pague e leve. Por quê? Porque é conveniente. E para isso é necessario fidelizar o cliente e reter a compra, fazendo o marketing correto, negativando a imagem do outro. Se você admite que o outro sacerdote é tão bom quanto você, corre-se o risco de perder o cliente, quero dizer, o fiel. Mas, se mostra que o produto dele não é tão bom, a comida não é tão bem-feita ou a vela não brilha tanto, a pessoa permanece, afinal, aquilo que custa mais caro e é melhor, é aquilo a que se dá valor. E viva a chegada do capitalismo no mundo espiritual.
3• Postura Católica versus postura Umbandista
Por fim, feita toda essa argumentação, é necessário relembrar, que, no começo, falou-se das relações com o Catolicismo e colocou-se que o sofrimento era uma parte integrante da creça católica, não umbandista. Além de sermos uma religião espiritualista/naturalista, em que o plano físico e o espitual têm a mesma importância, pois tudo faz parte de um intrincado equilíbrio de energias que nos levam à evolução, outro ponto a favor do argumento de que, sim, Deuses e Entidades andam entre nós, interagem e incorporam, e este não é apenas um plano de expiação, mas um plano onde podemos buscar a nossa própria felicidade.
E esse argumento jaz nos ensinamentos do próprio Mestre Jesus. Em vários episódios, ele mostrou o valor do conhecimento (como quando ainda criança, debateu com os rabinos no Templo sobre as Leis de Deus), de aproveitar a vida (como quando bebeu com os mercadores, embora estes não fossem bem-vistos, já que levavam uma vida mais materialista) e exercer a Caridade e o Perdão conscientes, não por obrigação (como quando perdoou a mulher adúltera em vez de apedrejá-la, após um julgamento tendecioso, como era típico da época). Ele nos mostrou que o mundo espiritual está mais próximo que imaginamos quando disse ao Bom Ladrão: " Em verdade te digo, ainda hoje estarás comigo no Paraíso".
Então, por que seremos nós a contrariar os ensinamentos de tão sábio mestre, dos guias e entidades e dos Orixás em Terra, apenas para satisfazer nosso orgulho vão?
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